sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

História Social da Arte


Livro clássico, fundamental, de Arnold Hauser (em inglês) - The Social History of Art (1951, reed. 1999): Vol. 1, From Prehistoric Times to the Middle Ages; vol. 2, Renaissance, Mannerism, Baroque; vol. 3, Rococo, Classicism and Romanticism; falta o vol. 4, Naturalism, Impressionism, The Film Age.

Em espanhol, apenas o vol 1 (de 2): Historia Social de la Literatura y del Arte, tomo I: Desde la Prehistoria hasta el Manierismo. [4shared]

Por volta de 1916, Arnold Hauser (1892-1978) participou do "Círculo de domingo" de Budapeste, formado em torno de György Lukács e do qual também faziam parte Béla Balázs, Karl Mannheim, Béla Bártok, entre outros. Em 1938 Hauser instalou-se em Londres, onde iniciou as pesquisas para a História Social da Arte, concluída dez anos depois.
A obra de Hauser é citada com aplauso no capítulo sobre "Sociologia da Arte e da Música" do volume Soziologische Exkurse, publicado pelo Instituto de Pesquisas Sociais: "o método de Hauser é dialético no sentido mais rigoroso, e permite-lhe derivar as formas artísticas, através de todas as mediações e em todas as suas diferenciações específicas, das condições sociais, tanto do trabalho como das relações de domínio em diversos períodos históricos. [...] a arte é explicada a partir da totalidade social."

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

domingo, 13 de dezembro de 2009

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Internacional Situacionista


Livro (em inglês) org. por Tom McDonough - Guy Debord and the Situationist International: Texts and Documents (2002) [pdf] [rapidshare]
Traz textos (menores) dos situacionistas e, entre outras coisas, um ensaio de Giorgio Agamben sobre Debord, além de uma entrevista com Henri Lefebvre.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Canções de maio de 1968


Canções do proletariado revolucionário - Pour en finir avec le travail (1974) [mp3]

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Estrela da Manhã


Livro (em inglês) de Michael Löwy - Morning Star: Surrealism, Marxism, Anarchism, Situationism, Utopia (2009) [pdf].
Esta edição norte-americana inclui ensaios que não se encontram na edição original francesa de 2000 (e na tradução brasileira, de 2002).

sábado, 5 de dezembro de 2009

Skoteinos


Livro (em espanhol) de Theodor W. Adorno - Tres Estudios sobre Hegel [pdf] [4shared].

(Um link para a edição em inglês do mesmo livro já foi postado aqui.)

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O último gênio


Biografia (em inglês) de Theodor Adorno, por Detlev Claussen - Theodor W. Adorno: One Last Genius (2008) [pdf] [rapidshare]. Link alternativo: ifile

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O Jargão da Autenticidade



Livro (em inglês) de Theodor W. Adorno - The Jargon of Autheticity [pdf].

domingo, 29 de novembro de 2009

Esperando Godot


Excelente versão cinematográfica (2001) de Esperando Godot, de Samuel Beckett, dirigida por Michael Lindsay-Hogg, para o projeto "Beckett on Film", produzido pela BBC. [rapidshare - baixar todas as partes e descomprimir com Winrar. Inclui legendas em inglês, francês e português.] Links alternativos (com legendas em espanhol).

Waiting for Godot em Audiobook (2006), em inglês. [mp3] [filefactory]

Texto da peça de Beckett (em inglês).

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

David Harvey sobre Giovanni Arrighi

Giovanni Arrighi e David Harvey

Artigo (em inglês) de David Harvey sobre Giovanni Arrighi - Giovanni Arrighi Obituary (The Guardian).

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Acordando os mortos


Artigo de Terry Eagleton sobre a História em Walter Benjamin (em inglês) - Waking the dead (New Stateman).

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Pós-Muro


Artigos (em inglês) de Slavoj Žižek sobre os 20 anos da queda do Muro de Berlim:

sábado, 21 de novembro de 2009

Origem do Drama Barroco Alemão


Livro (em inglês) de Walter Benjamin - The Origin of German Tragic Drama [djvu, requer programa específico para leitura] [4shared].

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Na sala de aula


Livro de Antonio Candido - Na Sala de Aula: caderno de análise literária (1985) [rapidshare]
Links alternativos: esnips - megaupload - depositfiles - zshare

terça-feira, 17 de novembro de 2009

O Tupi e o Alaúde


Livro de Gilda de Mello e Souza - O Tupi e o Alaúde: uma interpretação de Macunaíma (1979) [pdf] [rapidshare]
Links alternativos: esnips - megaupload - depositfiles - zshare

domingo, 15 de novembro de 2009

Literatura e Sociedade


Livro de Antonio Candido - Literatura e Sociedade (1965) [doc] [rapidshare].
Links alternativos: esnips - megaupload - depositfiles - zshare

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A Razão na História


Texto de Hegel - A Razão na História (Introdução à Filosofia da História) [pdf, em português]. Também aqui.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Primeiro como tragédia, depois como farsa



Livro de Slavoj Žižek (em inglês) - First as Tragedy, then as Farce (2009) [pdf]

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

sábado, 7 de novembro de 2009

Textos de Beatriz Sarlo

Textos de Beatriz Sarlo:

Ensayos Argentinos: de Sarmiento a la Vanguardia - B. Sarlo y Carlos Altamirano [pdf]

Textos vários de Sarlo em um arquivo rar:
(Articulo) Arlt, ciudad real, ciudad imaginaria, ciudad reformada (RTF)
(Articulo) Borges - Un escritor en las orillas (DOC)
(Articulo) Guerra y conspiracion de los saberes (DOC)
(Articulo) Horacio Quiroga y la hipotesis tecnico-cientifica (DOC)
Escritos sobre literatura argentina (PDF)
Una modernidad periferica (PDF)

Fonte: El último libro

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Entrevista de Antonio Candido

Entrevista de Antonio Candido, a propósito dos 50 anos da publicação de Formação da Literatura Brasileira (24/10/2009):


“A literatura é uma transfiguração da realidade”

Zero Hora – À distância de 50 anos, a Formação da Literatura Brasileira (FLB) lhe parece padecer de algum traço nacionalista, como se costuma dizer? Se o senhor escrevesse a obra hoje, faria diferente, especificamente na abordagem do nacional ou, ao contrário, na integração do não-nacional?

Antonio Candido –
Começando pelo fim, lembre quanto ao “não-nacional” que eu refiro sempre os autores brasileiros aos inspiradores ou afins europeus, porque a nossa é uma literatura que pertence organicamente ao quadro das literaturas ocidentais. Muitas vezes, o que escrevemos parece, aos outros, diferente do que nos parece. O fato de a FLB estudar o nacionalismo crítico não quer dizer que se enquadre nele. O que penso a respeito pode ser lido num trecho da introdução: “(...) o nacionalismo crítico, herdado dos românticos, pressupõe também, como ficou dito, que o valor da obra dependia do seu caráter representativo. Dum ponto de vista histórico, é evidente que o conteúdo brasileiro foi algo positivo, mesmo como fator de eficácia estética, dando pontos de apoio à imaginação e músculos à forma. Deve-se, pois, considerá-lo subsídio da avaliação, nos momentos estudados, lembrando que, após ter sido recurso ideológico, numa fase de construção e autodefinição, é atualmente inviável como critério, constituindo um calamitoso erro de visão”. Terei incorrido neste erro? Levar em conta a ocorrência nas obras de elementos característicos do país, tanto humanos quanto naturais, é necessário num trabalho de história literária, mas nem é exclusividade do nacionalismo crítico, nem basta para caracterizá-lo. O nacionalismo crítico propriamente dito tem entre os seus pressupostos a noção de que o conteúdo temático local determina o valor das obras. Isso não estava nas minhas intenções, mas é possível que tenha se infiltrado. Seja como for, continuo aceitando os pontos de vista da FLB, que, no entanto, é um livro de outro tempo. Portanto, desgastado. Parafraseando Carlos Drummond de Andrade num dos seus mais belos poemas, sinto que sobre ele o tempo abateu a sua mão pesada. Sobretudo levando em conta que, no último meio século, constituiu-se e amadureceu, de Norte a Sul, a crítica universitária, investigadora e retificadora por natureza. Quando escrevi a FLB, a partir de 1945, ela estava começando.

ZH – O prefácio da segunda edição da FLB identifica “o último quartel do século 19” como “o momento em que a nossa literatura aparece integrada, articulada com a sociedade”. A identificação desse momento é baseada em qual grau de articulação com qual porção da sociedade?

Candido –
A parte final do século 19 me parece o momento no qual a nossa literatura já demonstrava um grau de integração autor-obra-público que, segundo o meu ponto de vista, permite considerá-la atividade contínua, marcada por uma tradição local, sendo que o público, isto é, a parte da sociedade com a qual se articula, era essencialmente a minoria capaz de ler. Por isso, parei o livro naquela altura. Quem o lê percebe que a pesquisa sobre tradição, implícita o tempo todo, é um fio condutor, porque a tradição é a prova de que o sistema vai se constituindo, de que a literatura vai se institucionalizando, ao longo de um processo esboçado em meados do século 18. Creio que a FLB chocou a rotina, preocupada com a ocorrência dos fatos literários, não com a sua articulação e a sua continuidade. A nossa historiografia procurava, por exemplo, estabelecer quando a literatura começou aqui (com a Carta de Caminha, com Bento Teixeira, com os “baianos”?), ou como foi exprimindo cada vez mais a realidade local. Ora, ela não começou em momento nenhum, porque veio pronta de Portugal, ou veio vindo, com todo o peso erudito do Renascimento. Quanto à importância da tradição como força constitutiva, a meu ver, a literatura amadurece quando é possível a um escritor reportar-se, para elaborar a sua linguagem e os seus temas, ao exemplo de escritores precedentes do seu país. Quais os antecessores locais de Gregório de Matos? Não há, é claro. A formação do sistema pressupõe a continuidade, que determina a fisionomia geral da literatura. É o que me parece haver no fim do século 19. Mas sou obrigado a reconhecer que grande parte dos equívocos sobre o meu livro deve ter sido motivada pelo título impróprio. Deveria ser: Arcádia e Romantismo – Momentos Decisivos na Formação do Sistema Literário Brasileiro. Mas isso o editor não aceitaria, nem eu ousaria propor, porque ele já estava sendo compreensivo demais ao aceitar que eu lhe desse, ao cabo de 12 anos, não a pequena história que havia encomendado, mas uma coisa inteiramente diversa. A propósito, lembro que escrevi em 1987 e publiquei em 1997 um resumo, no qual, aí sim, apresento o conjunto, à luz do que denominei sistema literário: Iniciação à Literatura Brasileira.

ZH – Vários intelectuais que lhe foram próximos, como Mário de Andrade e Sérgio Buarque de Holanda, e mesmo alguém não próximo, como Gilberto Freyre, parecem não ter compreendido a importância de Machado de Assis (Mário preferia Alencar a Machado, Sérgio considerava Machado a “flor da estufa do formalismo” etc). Até que ponto a FLB pode ser vista como uma tentativa de explicar essa importância a tais figuras?

Candido –
Isso nunca me passou pela cabeça, mas aproveito para aludir ao significado de Machado de Assis no projeto do meu livro. Ele foi o primeiro escritor verdadeiramente genial de nossa literatura e marcou a superação do nacionalismo, inclusive sob seus aspectos pitorescos, valorizados pelos estrangeiros interessados, sobretudo, em nosso lado exótico (Denis, Monglave, Garrett etc). De maneira muito própria, ele traduziu a nossa realidade humana em valor universal, mas – aqui, entra o meu ponto de vista – isso não quer dizer, como se disse durante muito tempo, que tenha sido uma espécie de bólido caído no Brasil não se sabe por quê. É certo que não foi um produto necessário do que lhe era anterior, mas o fato é que pressupõe as tentativas precedentes, que sublimou e coroou, porque já havia aqui uma tradição em andamento. Ele incorporou e transcendeu os esforços medíocres de (Joaquim Manuel de) Macedo e os mais consistentes de (José de) Alencar, fazendo da ficção narrativa um instrumento refinado e moderno de análise da personalidade e da sociedade, com uma visão, por assim dizer, essencial, que o situa no nível dos grandes ficcionistas europeus do seu tempo. Com ele, personalidade e sociedade deixam de ser na ficção objetos de validade local para se tornarem universais. Daí o valor simbólico que lhe atribuí, como sinal de coroamento do processo de formação do sistema literário.

ZH – A última história da literatura brasileira importante foi a de Alfredo Bosi, História Concisa da Literatura Brasileira, escrita há mais de três décadas. A que se pode atribuir o silêncio atual na tarefa de historiar a literatura brasileira?

Candido –
Hoje, a tarefa de escrever uma história da nossa literatura que ultrapasse a escala de compêndio ou, como se dizia dantes, de bosquejo, dificilmente poderá ser realizada por um só autor. Afrânio Coutinho sentiu isso bem quando recorreu, já nos anos de 1950, a uma equipe variada para realizar o seu importante A Literatura do Brasil, em seis volumes. A experiência pessoal me mostrou que mesmo o estudo mais ou menos aprofundado de apenas dois períodos era tarefa pesada demais quando a empreendi, de 1945 a 1957. Daí tantas lacunas na FLB. De lá para cá, a investigação se desenvolveu de maneira considerável, devido sobretudo aos programas de pós-graduacão, apoiados por bolsas de estudos. Do Amazonas ao Chuí, como se dizia, milhares de estudiosos, com mais ou menos talento, com mais ou menos êxito, vêm realizando um esquadrinhamento que torna difícil a uma só pessoa a tarefa de escrever uma história, mesmo curta. O livro de Alfredo Bosi é notável, e eu mencionaria também o de Luciana Stegagno Picchio. E há outra questão: será que ainda há interesse nesse tipo de livro? Houve modificação profunda nos estudos literários, e o tratamento histórico parece ter perdido o prestígio anterior, o que é uma pena e, sobretudo, uma perda.

ZH – O Modernismo da década de 1920 contribuiu para a afirmação nacionalista no estudo da literatura brasileira. Para críticos estrangeiros, como Erich Auerbach e Edmund Wilson, o nacionalismo não é um problema a ser pensado. A que o senhor atribui essa necessidade do nacionalismo no Brasil? Não parece ter havido influência demasiada do Modernismo na historiografia brasileira?

Candido –
O nacionalismo dos românticos foi um instrumento de afirmação nacional e sobretudo patriótica, sendo tentativa de demonstrar que a literatura brasileira era diferente da portuguesa, porque tinha temas e sentimentos próprios. Foi uma espécie de compreensível reforço do processo de independência, processo lento que começa com a vinda de Dom João em 1808 e vai até a última revolta local em 1849. Foi um ponto de vista historicamente compreensível e válido, marcado pelo patriotismo e a euforia. O que se chama de nacionalismo dos modernistas de 1922 me parece outra coisa. Teve cunho crítico e desmistificador, procurando destacar aspectos considerados negativos pela ideologia tradicional: o negro, o imigrante, o pobre, a fala e a cultura popular etc. Sem falar que substituiu a euforia pela ironia, parecendo, às vezes, um antinacionalismo. Tanto assim que talvez o retrato mais significativo do Brasil que surgiu então foi Macunaíma. O que se poderia aproximar do nacionalismo originário é o verde-amarelismo, derivante secundária que deu no que deu. Quanto aos críticos estrangeiros, é bom lembrar que o nacionalismo romântico foi importante porque o Brasil era um país novo, precisava afirmar sua singularidade e sua valia, começando pela beleza da paisagem e chegando ao índio transfigurado. Fenômeno de adolescência sem sentido nos países velhos.

ZH – Aos 50 anos da FLB, que balanço íntimo o senhor faz? Ocorre-lhe alguma crítica que a obra poderia ter recebido e, para surpresa sua, não veio?

Candido –
O que me causou estranheza é sobretudo o fato de FLB ter sido tratada como se fosse uma história truncada ou uma teoria geral. Creio que a maioria se limitou a comentar a pertinência do prefácio e da introdução, quando os quadros e critérios que eles propõem sempre me pareceram menos importantes do que as análises, escolhas, filiações, articulações das obras e dos autores. Esta é a matéria do livro, e dela não se fala. Tenho razão em considerar Santa Rita Durão um passadista e Basílio da Gama um inovador? O Uraguai é uma obra-prima mal composta? Houve de fato um “pré-romantismo franco-brasileiro”? A relação do Arcadismo e do Romantismo pode ser considerada de cunho dialético? Sousa Caldas é de fato um crítico ilustrado da tradição clássica? O gênero romance foi uma espécie de descoberta progressiva do país? A obra de (José de) Alencar vale mais pelo realismo do que pelo indianismo? O conto Ierecê a Guaná, de Taunay, pode ser considerado mola inconsciente de Inocência? Esses são alguns exemplos das dezenas de proposições da FLB às quais ninguém deu atenção. Mas não faltou quem dissesse que, para mim, a literatura brasileira começa em 1750. Essa atenção aos pressupostos e esse desinteresse pela realização me fazem pensar que não fui capaz de explicar claramente o que pretendia. Mas como o livro continua a ser editado meio século depois parece que tem sido mais apreciado pelos estudantes, pelos professores e pelos leitores em geral do que pela crítica. Por outro lado, mais recentemente, a FLB vem sendo elevada a alturas que não merece. De fato, alguns o situam ao lado de Casa-Grande & Senzala e Raízes do Brasil como interpretação do Brasil, o que é constrangedor pelo exagero e equivocado como juízo. Não apenas a sua escala é incomparavelmente mais modesta, mas as interpretações pressupõem a abordagem da realidade social diretamente registrada na documentação, sendo por isso efetuada por historiadores, sociólogos, economistas. Ora, a literatura é uma transfiguração da realidade, de maneira que não pode servir de base para as interpretações.


Fonte: Zero Hora [via surdina.com]

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Livros de Raymond Williams

Livros de Raymond Williams:

Em inglês - Keywords: A Vocabulary of Culture and Society (1973, 2nd revised ed. 1983) [pdf]

Em espanhol - cinco livros em um arquivo rar:
Cultura y Sociedad, 1780-1950 [pdf]
El Campo y la Ciudad [pdf]
La Política del Modernismo [pdf]
Marxismo y Literatura [pdf]
Palabras Clave [pdf]


Resenha da biografia Raymond Williams: A Warrior’s Tale (2008), de Dai Smith, por Stefan Collini (em inglês). [London Review of Books]

domingo, 1 de novembro de 2009

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Cultura Soviética

Livro (em inglês) de Isaiah Berlin - The Soviet Mind: Russian Culture under Communism (2004) [pdf]

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Outubro


Filme de Sergei Eisenstein - Outubro [Oktyabr] (1927) [torrent]

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

História da Revolução Russa


Livro (em inglês) de Trotsky - The History of the Russian Revolution (1930) [marxists.org]

Ver também outros textos sobre a Revolução de Outubro em marxists.org.

sábado, 24 de outubro de 2009

Dez dias que abalaram o mundo


Relato clássico de John Reed - Ten Days that Shook the World (1919); em inglês, com nota introdutória de Lenin (1922). [marxists.org]
Em espanhol: Días que estremecieran al mundo [pdf, 4shared]

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Gerações Utópicas

Livro de Nicholas Brown - Utopian Generations: The Political Horizon of Twentieth-Century Literature (2005). [pdf]
Este livro de N. Brown, que foi orientado por Fredric Jameson, focaliza principalmente a literatura africana, mas traz também um capítulo sobre a Tropicália brasileira.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Ismail Xavier

Livros e artigos de Ismail Xavier:

domingo, 18 de outubro de 2009

Caudwell - Ilusão e Realidade

Christopher Caudwell

Livro de Christopher Caudwell (em inglês) - Illusion and Reality: a study of the sources of poetry (1937).
Três artigos do volume póstumo Studies in a Dying Culture (1938) [marxists.org]

Christopher Caudwell (1907-1937) [pseudônimo de Christopher St. John Sprigg] integrou-se ao Partido Comunista Britânico em 1934 e lutou na Guerra Civil Espanhola, na qual morreu em batalha, aos 29 anos de idade. Marco da crítica literária marxista, Illusion and Reality é uma tentativa de teorizar a história da poesia de um ponto de vista materialista. Apesar da importância histórica, o estudo de Caudwell é reconhecidamente limitado.
Discípulo de Caudwell, George Thomson (1903-1987) - que se tornou professor da Universidade de Birmingham em 1936, ano em que também se juntou ao Partido Comunista Britânico - publicou livros como Aeschylus and Athens: a study in the social origins of drama (1941) e Marxism and Poetry (1945).
Em seu ensaio "Crítica e sociologia" (Literatura e Sociedade), Antonio Candido menciona ambos os críticos ingleses, considerando que o estudo de Thomson sobre as raízes sociais da tragédia grega é "muito mais sólido" do que a investigação de Caudwell sobre as origens da poesia.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Iná Camargo Costa e Paulo Arantes

Debate com Iná Camargo Costa e Paulo Arantes, no seminário "Teatro épico e teatro pós-dramático na sociedade do espetáculo", promovido pela II Trupe de Choque em 2009.



Ver todas as 10 partes (youtube).

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Ciência da Lógica

Hegel - Ciência da Lógica (Wissenschaft der Logik)

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

re-press

O site da editora australiana re.press disponibiliza livros em pdf (Open Access). Alguns títulos:

sábado, 10 de outubro de 2009

Hegel por Kojève

Livro clássico (e controverso) de Alexandre Kojève - Introduction to the Reading of Hegel [pdf] - em inglês.

Os famosos seminários sobre a Fenomenologia do Espírito, realizados pelo emigrado russo Kojève na École Pratique des Hautes Études, em 1933-1939, foram coligidos e editados por Raymond Queneau em 1947. As conferências de Kojève foram ouvidas por gente como Georges Bataille, André Breton, Jacques Lacan, Merleau-Ponty e Raymond Aron, além de ter sabidamente influenciado Sartre. Consta que Kojève se descrevia politicamente (com ironia ou não) como um stalinista estrito; em 1999, noticiou-se a suposta existência de um documento dizendo que Kojève teria sido um agente soviético. Seja como for, Kojève inventou um Hegel "francês" (com ênfase em aspectos existenciais e políticos), que se instalou na cabeça dos intelectuais que moldaram a discussão sobre o Estruturalismo e a Fenomenologia no pós-guerra. Na expressão de Paulo Arantes, a leitura de Kojève resultou em "um Hegel errado mas vivo".

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

García Lorca


Poemas de García Lorca, lidos por Rafael Alberti (em espanhol):
Obras de García Lorca (em espanhol).

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Dicionário Histórico-crítico do Marxismo

Iniciada em 1994, a publicação em andamento do Historisch-kritischen Wörterbuchs des Marxismus, obra organizada por Wolfgang Fritz Haug (agora com Frigga Haug e Peter Jehle), está planejada para ter 15 volumes, devendo concluir-se em 2025. Atualmente, a publicação encontra-se no sétimo volume, cujo segundo tomo deve aparecer este ano.

Prefácio (1994) de Wolfgang Fritz Haug para o Dicionário Histórico-crítico do Marxismo: em inglês [pdf] ou em espanhol [rtf].

Comentário de Fredric Jameson ao Dicionário: A message in the bottle for the future [pdf]

Fonte: Institut für kritische Theorie

domingo, 4 de outubro de 2009

Dicionários

Dois Dicionários:
  • Walker David & Daniel Gray - Historical Dictionary of Marxism (2006) [pdf] - em inglês. (Útil, mas a obra de referência fundamental continua a ser o Dicionário do Pensamento Marxista, organizado por Tom Bottomore.)

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Para ler Marx

Alguns livros introdutórios sobre Marx (em inglês):
  • Allen W. Wood - Karl Marx (1981, 2nd ed. 2004) [pdf]

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Depois da dialética?

Livro (em inglês) de Göran Therborn - From Marxism to Post-Marxism? (2008) [pdf].
O livro fornece pontos de referência básicos para a crítica marxista hoje. Compõe-se de três ensaios: (1) Into the Twenty-first Century, que aponta algumas questões centrais da política atual; (2) Twentieth-Century Marxism and the Dialectics of Modernity, que apresenta um panorama da Teoria Crítica e do Marxismo Ocidental; e (3) After Dialectics, que faz um mapeamento da teoria social de esquerda contemporânea (o último ensaio, "Depois da dialética", já foi publicado em português na revista Margem Esquerda).

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Textos antigos do CEBRAP

Livros de antigos membros do CEBRAP [pdf]:

Fernando Novais - Estrutura e Dinâmica do Antigo Sistema Colonial (Cadernos Cebrap 17)

Bóris Fausto - Pequenos Ensaios de História da República (Cadernos Cebrap 10)

José Arthur Giannotti - Exercícios de Filosofia (1977) inclui o ensaio "Contra Althusser"

Francisco de Oliveira - A Economia Brasileira: Crítica à Razão Dualista (Estudos Cebrap 2)

José Arthur Giannotti - Trabalho e Reflexão: ensaios para uma dialética da sociabilidade (1983)

domingo, 27 de setembro de 2009

Entrevista de Franco Moretti

Aventuras modernas

Coletânea de ensaios sobre o romance, organizada por Franco Moretti, é lançada no Brasil

RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

A obra de maior ambição do italiano Franco Moretti, professor de literatura na Universidade Stanford, nos EUA, ele próprio um dos mais ambiciosos e ousados críticos literários em atividade, começa a ser editada no Brasil.
O primeiro dos cinco volumes de "O Romance" ("A Cultura do Romance", ed. Cosac Naify, trad. Denise Bottmann, 1.120 páginas, R$ 130) chega às livrarias. Moretti é o organizador dessa coletânea de ensaios de especialistas de vários países -nomes como Fredric Jameson, Umberto Eco, Mario Vargas Llosa, Beatriz Sarlo e Roberto Schwarz, entre outros- que se debruçam sobre a história, em todas as partes do globo, do gênero literário que dá nome à empreitada.
Na entrevista a seguir, ele fala sobre a versão ocidental do romance, seu momento de ascensão e definição formal no século 18 e a tarefa do gênero de apresentar "soluções imaginárias para as contradições reais" e irreconciliáveis da modernidade.

FOLHA - Em um artigo recente, o sr. diz que algumas características do gênero romance, no Ocidente, têm a ver com o padrão de consumo específico que passou a marcar essas sociedades a partir do século 18. Poderia explicar?
FRANCO MORETTI -
No século 18 houve certamente um aumento significativo do consumo de "luxos cotidianos", como tecidos, relógios, móveis, café etc. Também houve um aumento no consumo de livros, e de romances. Geralmente os historiadores literários buscam uma explicação para esse aumento de vendas de livros na própria estrutura dos romances -que seriam mais bem escritos, mais realistas, mais interessantes para os leitores, e por aí vai.
Procurei uma explicação alternativa para o fato de, de repente, os romances venderem mais. Defendi que a razão deve ser semelhante àquela que levou, no mesmo período, a uma produção e a um consumo maior de relógios, por exemplo.
Um desenvolvimento geral de bem-estar material e de riqueza, provocando um modo diferente de se relacionar com os romances, que passam a ser objeto de um tipo de leitura mais distraída.

FOLHA - O sr. compara o crescimento no número de pessoas capazes de ler, que teria dobrado, e o crescimento na venda ou no aluguel de romances, que teria aumentado de forma muito maior...
MORETTI -
Sim, isso indica que as pessoas estavam lendo um número maior de obras, e que essa leitura era feita de uma outra maneira; elas as liam de forma mais desatenta.

FOLHA - E isso implica uma nova forma estética para o romance?
MORETTI -
Sim. Que relação exata há entre uma coisa e outra, tenho dúvidas se saberia dizer. De todo modo, os romances passaram a ter que ser escritos de forma a capturar esse novo tipo de atenção. Por outro lado, isso não determina um tipo específico de estilo ou de trama. O que se percebe é que os romances não são tomados como uma arte séria, como passaram a ser bem mais tarde, já no século 20.

FOLHA - O sr. faz um contraste com a China na mesma época.
MORETTI -
Sim, na China os romances tinham uma estrutura narrativa e estética muito mais complexa, e isso impossibilitava o tipo de leitura "desatenta" que se tornou tão importante no Ocidente.

FOLHA - O sr. chama a atenção para o fato de muitos romances serem, no fundo, uma história de aventura. Alguém vai para algum lugar novo, inexplorado, tentar algo que não havia sido feito antes etc. E diz que isso termina sendo, de certa forma, uma característica "arcaica" do romance, já que o protótipo dessas aventuras seria o cavaleiro medieval. Qual é a razão, a seu ver, da força desse arcaísmo?
MORETTI -
A maioria dos gêneros mais populares dos últimos 200 anos é uma variação da história de aventura. Isso vale para a ficção científica, para as histórias de detetive etc. Isso parece ser um fato. Mas como se deu isso? Havia, primeiro, um enorme reservatório de histórias desse tipo, que foram escritas ao longo de séculos e reutilizadas nos romances.
Mas a verdadeira questão é: por que essas antigas histórias permaneceram tão vivas, tão importantes na modernidade? Provavelmente a resposta é parecida com aquela que podemos dar a outras questões próprias à modernidade, como, por exemplo: por que o poder patriarcal se manteve tão forte sob o capitalismo, na sociedade burguesa?
O capitalismo -e a modernidade- sempre fez uso, adaptou ou cooptou formas preexistentes de poder simbólico ou real. Isso vale com a monarquia, com o patriarcalismo, com a escravidão. Penso que algo semelhante ocorreu no imaginário ocidental com as histórias de aventura e o romance. Antigas alianças desaparecem muito lentamente, se de fato chegam a desaparecer.

FOLHA - O sr. diz que o próprio fato de a trama aventuresca ser arcaica serve a um propósito...
MORETTI -
Ela recebe uma função a cumprir. Especialmente na representação da guerra, creio, que é um aspecto fundamental do imaginário de aventura e do capitalismo. O que acontece quando a sociedade capitalista moderna tem que ir à guerra? Ela tem que ter uma cultura da guerra, e o capitalismo moderno, enquanto tal, não dispõe dessa cultura específica. Ele a herdou de outras formações sociais. A aventura é uma realização simbólica, idealizada da guerra.
Então, a razão pela qual temos aventura no romance moderno é a mesma por que temos guerras no capitalismo. Sempre se disse que o comércio substituiria a guerra, e que, em vez de nos matarmos uns aos outros, trocaríamos produtos. Isso, claro, nunca aconteceu.

FOLHA - Por falar em guerra, em um outro livro, o sr. diz que o romance cumpre a função de nos consolar com compromissos, ajustes possíveis, em meio a uma época de conflitos incessantes e inevitáveis. Como a ideia de aventura se reconcilia com essa, de "consolo"?
MORETTI -
Ainda penso na literatura como uma forma de "compromisso", de ajuste simbólico possível, de "solução" para os conflitos de uma época. Creio que, de fato, os romances permitem às pessoas se sentirem menos desconfortáveis em meio a esses seus conflitos.
Há esta fórmula de Lévi-Strauss para os mitos: soluções imaginárias para contradições reais. Creio que isso explica o que acontece com os romances e o modo como, ao longo do tempo, algumas obras são selecionadas pelos leitores em detrimento de outras. Há contradições (sociais, econômicas) que são mais importantes e soluções (nas obras) que parecem mais plausíveis.
O romance policial, por exemplo, tem muito a ver com o antigo mundo de aventura -há o desconhecido, há ganância, mistérios-, mas a estrutura é reapresentada de forma completamente racionalizada. É um gênero de um mundo de físicos, químicos, advogados, do século 19, da época vitoriana. É claramente um compromisso, um ajuste entre a antiga lógica das histórias de aventura e a nova lógica de um mundo racional e cientificista.

***
Moretti busca fazer história mundial da literatura

Utilizando trabalhos como o de Roberto Schwarz, autor alia estilo, humor e análise rigorosa

LUÍS AUGUSTO FISCHER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Não faz muito que o nome de Franco Moretti passou a ocupar algum espaço no debate literário no Brasil -o artigo que primeiro o colocou em evidência entre nós saiu em 2001, sob o título vasto e vago de "Conjecturas Sobre a Literatura Mundial" (em "Contracorrente", organizado por Emir Sader, editora Record).
Mas o texto revelou logo o tamanho da briga que este italiano, especialista em romance inglês, comprava: nem mais, nem menos, estava repassando criticamente as principais alternativas concebidas até hoje na direção de uma história mundial da literatura. Nada óbvio, nada fácil.
Ele se sai otimamente bem da empreitada. Não porque tenha qualquer ilusão de esgotar o assunto nos termos acadêmicos em que ele se apresenta -seja na forma das já velhas histórias nacionais (tantas vezes nacionalistas) de literatura, seja na moda da literatura comparada (tantas vezes um simples rebaixamento do problema)-, justo pelo contrário.
Arguindo a noção de que estudar literatura implica mergulhar profundamente em muito poucos livros, os canônicos, Moretti propõe uma perspectiva darwinista, isto é, materialista e empirista, animada pela tradição marxista, mas longe da variante adorniana.

Caso raro
Em sua mão, o que vai falar é um objeto muito mais vasto, que se compõe virtualmente da totalidade dos livros escritos, em qualquer parte. Vale conferir o quanto isso rende em seu primeiro livro traduzido aqui, o "Atlas do Romance Europeu" (Boitempo).
O que torna sua análise possível são duas restrições. Primeira: ele se ocupa do romance, e não de toda a literatura. Como se sabe, o romance é uma forma relativamente fácil de discernir em qualquer paisagem, em qualquer idioma, por variadas que sejam suas encarnações concretas.
Segunda: sem ilusões de poder ler todos os romances do mundo, nem mesmo os de um só país de cultura letrada sólida, ele se serve de leituras já feitas, de estudos que tenham já detectado modos particulares de ser do romance naquele contexto -daí, por exemplo, a centralidade que em sua teoria ocupa a figura de Roberto Schwarz, que estudou minuciosa e proficientemente a forma do romance brasileiro do século 19, entre [José de] Alencar e Machado de Assis.
Daqui se segue que o âmbito de trabalho morettiano é um caso raro na área, porque permite compartilhamento de tarefas e cumulatividade de trabalhos, como se fossem os estudos literários um ramo de ciência da natureza.
"A Literatura Vista de Longe": esse é o nome de um de seus grandes livros (edição brasileira: Arquipélago) e uma designação abreviada de seu método. Trata-se de olhar em perspectiva, a ponto de poder discernir os grandes veios, as tendências, os caminhos que o romance tomou.
Não quer estudar estrutura narrativa em abstrato; sua batalha é com a empiria que estrutura os romances. Cidade, campo, a rua, a divisão das classes pelo espaço, proximidade ou distância, essas variáveis geográficas são convocadas em paralelo com o desenho dos enredos, com o perfil das personagens, com o destino dos heróis.
Tudo isso vem com um acréscimo nada desprezível: Moretti escreve com um estilo marcante e eficaz, composto de muitos dados, confissões do pesquisador e um bom humor desconcertante, mas sempre orientado pela eficácia argumentativa. E nada disso impede que levante voos interpretativos, em que formula hipóteses de imenso valor analítico, em contraste com a relativa frivolidade da área, como se lê em "Signos e Estilos da Modernidade" (Civilização Brasileira).


LUÍS AUGUSTO FISCHER é crítico literário, professor de literatura na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e autor de "Machado e Borges" (ed. Arquipélago), entre outros livros.

Fonte: FSP, 27/09/09.

sábado, 26 de setembro de 2009

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Sobre Gilda de Mello e Souza


Ensaios sobre Gilda de Mello e Souza:

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Os seis minutos mais belos da História do cinema (segundo Agamben)


Sancho Pança entra num cinema de uma cidade do interior. Está procurando Dom Quixote e o encontra sentado isolado, fixando o telão. A sala está quase cheia; a galeria - uma espécie de "galinheiro" - está totalmente ocupada por crianças barulhentas. Após algumas inúteis tentativas de chegar a Dom Quixote, Sancho senta-se de má vontade na plateia, ao lado de uma menina (Dulcineia?), que lhe oferece um lambe-lambe. A projeção começou: é um filme de época; sobre o telão correm cavaleiros armados, e num certo momento aparece uma mulher em perigo. De repente, Dom Quixote se ergue em pé, desembainha a sua espada, se precipita contra o telão e os seus golpes começam a cortar o tecido. No telão aparecem ainda a mulher e os cavaleiros, mas o corte preto aberto pela espada de Dom Quixote se alarga cada vez mais, devorando implacavelmente as imagens. No final, quase nada sobra do telão, vendo-se apenas a estrutura de madeira que o sustentava. O público indignado abandona a sala, mas no "galinheiro" as crianças não param de encorajar fanaticamente Dom Quixote. Só a menina na plateia o fixa com reprovação.

O que devemos fazer com nossas imaginações? Amá-las, acreditar nelas a ponto de as devermos destruir, falsificar (este é, talvez, o sentido do cinema de Orson Welles). Mas quando no final se revelam vazias, insatisfeitas, quando mostram o nada de que são feitas, só então (importa) descontar o preço da sua verdade, compreender que Dulcineia - que salvamos - não pode nos amar.

-- Giorgio Agamben, Profanações.

Profanaciones (em espanhol) [pdf, no 4shared]


domingo, 20 de setembro de 2009

Livros de e sobre Žižek


Livros (em inglês) de Slavoj Žižek:
Livro (em inglês) sobre Žižek:
Mais informções, livros e vídeos de Žižek podem ser encontrados no blog Mariborchan.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Livros de Sartre


Livros de Jean-Paul Sartre (em francês e em inglês):

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

A Hipótese Comunista

A Hipótese Comunista

SLAVOJ ZIZEK

Em contraste com a imagem clássica dos proletários que não têm "nada a perder além dos seus grilhões", o que nos une é o perigo de perdermos tudo: nosso meio ambiente, nosso patrimônio genético e a possibilidade de nos comunicarmos livremente

Em um magnífico texto curto, "Notas de um Publicista" - escrito em fevereiro de 1922, quando os bolcheviques, depois de, contra todas as expectativas, vencerem a guerra civil, precisaram recuar, adotaram a Nova Política Econômica e admitiram uma liberdade de ação muito mais ampla para a economia de mercado e a propriedade privada -, Lênin usa a analogia de um alpinista obrigado a retroceder em sua primeira tentativa de chegar a um novo pico para descrever o que significa o recuo num processo revolucionário, e como pode ser levado a cabo sem, oportunisticamente, trair a causa:

Imaginemos um homem que escala uma montanha muito alta, íngreme e até então inexplorada. Vamos supor que ultrapassou dificuldades e perigos inéditos, conseguindo atingir um ponto muito mais alto que qualquer um dos seus antecessores, mas que ainda não chegou ao cume. Ele se vê numa posição em que não é só difícil e perigoso prosseguir, na direção e pelo trajeto que escolheu, mas positivamente impossível.

Seria mais que natural, para um alpinista nessa posição, escreve Lênin, passar por "momentos de desânimo". E o mais provável é que esses momentos se tornassem mais frequentes e difíceis caso ele pudesse escutar as vozes dos que se encontram ao pé da montanha, e "por um telescópio, a uma distância segura, acompanham sua perigosa descida":

As vozes que vêm de baixo ressoam com alegria maldosa. Nem se preocupam em ocultá-la, riem com gosto e exclamam: "Ele vai cair de uma hora para outra! E é bem-feito para esse lunático!"

Felizmente, prossegue Lênin, nosso excursionista imaginário não tem como escutar as vozes dessas pessoas. Se ouvisse, "é provável que o deixassem nauseado, e a náusea, dizem, não ajuda ninguém a manter a lucidez mental e os pés firmes, especialmente em altitudes elevadas".

Mais adiante, Lênin aborda a situação que a recém-nascida República soviética enfrentava naquele momento:

O proletariado da Rússia atingiu uma altitude gigantesca em sua revolução, não só em comparação com 1789 [tomada da Bastilha] e 1793 [execução de Luis xvi, proclamação da República e Terror], mas também com 1871 [Comuna de Paris]. Precisamos avaliar o que fizemos e deixamos de fazer, da maneira mais desapaixonada, clara e concreta possível. Se o fizermos, conseguiremos conservar a lucidez. Não sofreremos de náusea, ilusões ou desânimo.

E conclui:

Estão perdidos os comunistas que imaginam ser possível levar a cabo uma tarefa tão memorável quanto a construção das fundações da economia socialista (especialmente num país de pequenos camponeses) sem cometer erros, sem recuos, sem numerosas alterações do que ficou incompleto ou foi feito da maneira errada. Os comunistas que não têm ilusões, que não se entregam ao desânimo e preservam sua força e flexibilidade para "começar do começo" repetidas vezes, para dar conta de uma tarefa extremamente difícil, não estão perdidos (e muito provavelmente não haverão de perecer).

Eis Lênin no que melhor tem de beckettiano, prefigurando a frase de Worstward Ho [Rumo ao Pior]: "Tente de novo. Fracasse de novo. Fracasse melhor." Sua conclusão - começar do começo - deixa claro que não está falando de simplesmente reduzir a velocidade e consolidar o que foi realizado, mas de descer todo o caminho de volta até o ponto de partida: deve-se começar do começo, não do ponto alcançado na tentativa anterior. Nas palavras de Kierkegaard, um processo revolucionário não é um progresso gradual, mas um movimento repetitivo, um movimento de repetir o começo e voltar a repeti-lo muitas vezes.

Onde nos encontramos hoje, depois do désastre obscur de 1989? Como em 1922, as vozes que vêm de baixo ressoam à nossa volta com alegria maldosa: "Bem-feito para esses lunáticos que tentaram impor sua visão totalitária à sociedade!" Outros tentam ocultar seu regozijo maldoso, gemem e erguem para o céu os olhos cheios de dor, como se dissessem: "Como nos faz sofrer ver nossos medos justificados! Como era nobre sua visão de criar uma sociedade justa! Nosso coração batia em uníssono com o seu, mas a razão insistia em nos dizer que seus planos só podiam acabar em miséria e em novas restrições à liberdade!" Ao mesmo tempo em que recusamos qualquer acordo com essas vozes sedutoras, precisamos definitivamente começar do começo - não para continuar a construir com base nas fundações da era revolucionária do século xx, que durou de 1917 a 1989, ou, mais precisamente, 1968 - mas descer de volta até o ponto de partida e escolher outro caminho.

Mas como? O problema definidor do marxismo ocidental tem sido a ausência de um sujeito revolucionário: como é que a classe trabalhadora não completa a sua passagem de classe em si a classe para si e não se constitui como agente revolucionário? Foi essa pergunta que forneceu a principal raison d'être para que o marxismo ocidental recorresse à psicanálise - evocada para explicar os mecanismos libidinais inconscientes que impedem o surgimento de uma consciência de classe, e que estão inscritos no próprio ser, ou na situação social, da classe trabalhadora.

Dessa maneira, a verdade da análise socioeconômica do marxismo foi posta a salvo: não havia razão para ceder terreno a teorias revisionistas envolvendo a ascensão das classes médias. Por esse mesmo motivo, o marxismo ocidental envolveu-se também na procura constante de outros, que pudessem desempenhar o papel de agente revolucionário, como um ator substituto que está a postos para ocupar o lugar da classe trabalhadora indisposta: os camponeses do Terceiro Mundo, os estudantes e intelectuais, os excluídos.

É possível, também, que essa busca desesperada pelo agente revolucionário seja a forma assumida pelo seu oposto exato: o medo de encontrá-lo, de reconhecê-lo onde ele já se agita. Esperar que outro trabalhe no nosso lugar é uma forma de racionalizar a nossa inatividade.

É contra esse pano de fundo que Alain Badiou sugeriu a reafirmação da hipótese comunista [leia na piauí-_23]. Ele escreve:

Se precisarmos abandonar essa hipótese, então não valerá mais a pena fazer nada no campo da ação coletiva. Sem o horizonte do comunismo, sem essa Idéia, nada no devir histórico e político tem qualquer interesse para um filósofo.

No entanto, prossegue Badiou:

Aferrar-se à Idéia, à existência da hipótese, não significa que sua primeira forma de apresentação, tendo como foco a propriedade e o Estado, precise permanecer inalterada. Na verdade, o que cabe a nós filósofos como tarefa, e até mesmo obrigação, é ajudar no surgimento de uma nova modalidade de existência da hipótese comunista.

É preciso tomar cuidado para não ler essas linhas à maneira kantiana, concebendo o comunismo como uma Idéia reguladora, e ressuscitando assim o espectro do "socialismo ético", que tem a igualdade como sua norma ou a priori. Em vez disso, é preciso observar a referência precisa a um conjunto de antagonismos sociais que gera a necessidade do comunismo: a boa e velha idéia marxista do comunismo não como um ideal, mas como um movimento que reage a contradições reais.

Tratar o comunismo como Idéia eterna implica que a situação que o gera não é menos eterna, e que o antagonismo ao qual o comunismo reage sempre estará presente. E a partir daí estaremos a um passo apenas de uma análise desconstrutiva do comunismo como um sonho de presença, um sonho que se alimenta da sua própria impossibilidade.

Embora seja fácil rir da idéia de Francis Fukuyama do "fim da História", hoje a maioria é fukuyamista. O capitalismo liberal-democrata é aceito como a fórmula finalmente encontrada da melhor sociedade possível. Tudo que se pode fazer é torná-lo mais justo, tolerante e por aí afora. E uma pergunta simples, mas pertinente, surge aqui: se o capitalismo liberal-democrata é, senão a melhor, mas a menos pior das formas de sociedade, por que não simplesmente resignar-nos a ele de um modo maduro, ou mesmo aceitá-lo sem restrições? Por que insistir, contra ventos e marés, na hipótese comunista?

Não basta permanecer fiel à hipótese comunista: é preciso localizar na realidade histórica antagonismos que transformem o comunismo numa urgência de ordem prática. A única questão verdadeira dos dias de hoje é a seguinte: será que o capitalismo global contém antagonismos suficientemente fortes para impedir a sua reprodução infinita?

Quatro antagonismos possíveis se apresentam: a ameaça premente de catástrofe ecológica; a inadequação da propriedade privada para a chamada propriedade intelectual; as implicações socioéticas dos novos desenvolvimentos tecnocientíficos, especialmente no campo da engenharia genética; e por último, mas não de importância menor, as novas formas de segregação social - os novos muros e favelas. Devemos notar que existe uma diferença qualitativa entre o último, o abismo que separa os excluídos dos incluídos, e os outros três, que se referem aos domínios do que Michael Hardt e Antonio Negri chamam de commons [aquilo que é comum a todos, que é público] - a substância compartilhada do nosso ser social, cuja privatização é um ato violento ao qual se deve resistir, se necessário, pela força.

Primeiro, existem os commons da cultura, as formas imediatamente socializadas do capital cognitivo: basicamente a linguagem, nosso meio de comunicação e educação, mas também a infraestrutura compartilhada, como os transportes públicos, a eletricidade, os correios etc. Se Bill Gates conseguisse o monopólio, teríamos chegado à situação absurda em que um determinado indivíduo deteria a propriedade privada do software que constitui a trama da nossa rede básica de comunicação.

Segundo, existem os commons da natureza exterior, ameaçada pela poluição e a exploração - do petróleo às florestas, e passando pelo próprio habitat natural.

Em terceiro, os commons da natureza interior, o patrimônio biogenético da humanidade.

O que todas essas lutas têm em comum é a consciência do potencial destruidor - ao ponto da autoaniquilação da própria humanidade - se a lógica capitalista levar à apropriação desses commons. E é isso que favorece a ressurreição da noção de comunismo: ela nos permite ver a apropriação paulatina dos commons como um processo de proletarização no qual os excluídos perdem a sua própria substância; um processo que é mais uma forma de espoliação. A tarefa, hoje, é renovar a economia política da espoliação - por exemplo, a espoliação dos anônimos "trabalhadores do conhecimento" pelas empresas nas quais trabalham.

Contudo, é apenas o quarto antagonismo, o dos excluídos, que justifica o termo comunismo. Não existe nada mais privado do que uma comunidade estatal que perceba os excluídos como uma ameaça, e se preocupe em mantê-los à devida distância. Noutras palavras, nessa série de quatro antagonismos, o crucial é o que se dá entre os incluídos e os excluídos: sem ele, todos os demais perdem o gume subversivo. A ecologia se transforma num problema de desenvolvimento sustentável; a propriedade intelectual, num complexo desafio para as leis; a engenharia genética, numa questão de ordem moral.

Pode-se lutar com sinceridade pelo meio ambiente, defender uma noção mais ampla de propriedade intelectual, ou se opor ao patenteamento de genes, sem confrontar o antagonismo entre incluídos e excluídos. Mais ainda: algumas dessas lutas podem ser formuladas em termos dos incluídos ameaçados pela poluição dos excluídos. Dessa maneira, não alcançamos uma autêntica universalidade, mas só interesses "privados" no sentido kantiano.

Empresas como a Whole Foods ou a Starbucks continuam a usufruir de boa reputação entre os liberais, embora ambas combatam os sindicatos. O segredo delas é a venda de produtos com certo matiz progressista: grãos de café comprados a preços compatíveis com o "comércio ético, justo e solidário", o uso de dispendiosos veículos híbridos etc. Em suma, sem o antagonismo entre os incluídos e os excluídos, podemos nos encontrar num mundo em que Bill Gates é o maior dos filantropos, combatendo a pobreza e a doença, e Rupert Murdoch é o maior dos ambientalistas, mobilizando centenas de milhões de pessoas por meio de seu império midiático.

O que é preciso acrescentar, indo além de Kant, é que existem grupos sociais que, por conta de não ocuparem um lugar determinado na ordem "privada" da hierarquia social, surgem como representantes diretos da universalidade: são o que Jacques Rancière chama de "parte de parte alguma" do corpo social. Toda proposta política de caráter genuinamente emancipador é gerada pelo curto-circuito entre a universalidade do uso público da razão e a universalidade da "parte de parte alguma". Esse já era o sonho comunista do jovem Marx - reunir a universalidade da filosofia com a universalidade do proletariado. Desde a Grécia Antiga, temos um nome para a intrusão dos excluídos no espaço sociopolítico: democracia.

A noção liberal predominante da democracia também trata dos excluídos, mas de modo radicalmente diverso: concentra o foco na sua inclusão como vozes minoritárias. Todas as posições devem ser ouvidas, todos os interesses levados em conta, os direitos humanos de todos precisam ser assegurados, todos os modos de vida, todas as culturas e todas as práticas respeitadas, e assim por diante. A obsessão dessa democracia é a proteção de todos os tipos de minorias: culturais, religiosas, sexuais etc. A fórmula da democracia, aqui, consiste na negociação paciente e no compromisso.

O que se perde nela é a universalidade corporificada nos excluídos. As novas medidas políticas de caráter emancipador não serão mais produzidas por um determinado agente social, mas por uma combinação explosiva de diversos agentes. Em contraste com a imagem clássica dos proletários que não têm "nada a perder além dos seus grilhões", o que nos une é o perigo de perdermos tudo. A ameaça é sermos reduzidos a um sujeito cartesiano abstrato e vazio, privado de todo o nosso conteúdo simbólico, com nossa base genética manipulada, vegetando num meio ambiente inabitável. Essa tríplice ameaça transforma-nos a todos em proletários -reduzidos a uma "subjetividade sem -substância", como define o Marx dos Grundrisse [esboços de crítica da economia política]. A figura da "parte de parte alguma" nos confronta com a verdade da nossa posição. E o desafio ético-político é nos reconhecermos nessa imagem.

Fonte: Piauí, n. 34, 2009.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Situação de Sítio

Ensaio de Iumna Maria Simon sobre a poesia de Claudia Roquette-Pinto - Situação de Sítio (Novos Estudos, 2009).

sábado, 12 de setembro de 2009

Brecht & Weill

Weill & Brecht - Die Dreigroschenoper (gravado em 1958) [mp3] - com Lotte Lenya

Ute Lemper sings Kurt Weill, vols. 1 & 2 (1988, 1993) [flac] ou aqui: vol. 1 e vol. 2 [mp3]

Anne Sofie von Otter - Speak Low: Songs by Kurt Weill (1995) [flac]

Erotische Gedichte (2006) [audiobook, em alemão] - textos eróticos de Bertolt Brecht lidos por Blixa Bargeld (o guitarrista de Nick Cave & The Bad Seeds e líder do Einstürzende Neubauten).

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Livros de Fanon

Livros (em inglês) de Frantz Fanon:

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Livros de e sobre Agamben

Livros (em inglês) de Giorgio Agamben:

Sobre Agamben:

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Sonhos do avesso

Sonhos do avesso
MARIA RITA KEHL
ESPECIAL PARA A FOLHA

Dizem que Karl Marx descobriu o inconsciente três décadas antes de Freud. Se a afirmação não é rigorosamente exata, não deixa de fazer sentido desde que Marx, no capítulo de "O Capital" sobre o fetiche da mercadoria, estabeleceu dois parâmetros conceituais imprescindíveis para explicar a transformação que o capitalismo produziu na subjetividade.
São eles os conceitos de fetichismo e alienação, ambos tributários da descoberta da mais-valia -ou do inconsciente, como queiram. A rigor, não há grande diferença entre o emprego dessas duas palavras na psicanálise e no materialismo histórico. Em Freud, o fetiche organiza a gestão perversa do desejo sexual e, de forma menos evidente, de todo o desejo humano; já a alienação não passa de efeito da divisão do sujeito, ou seja, da existência do inconsciente. Em Marx, o fetiche da mercadoria, fruto da expropriação alienada do trabalho, tem um papel decisivo na produção "inconsciente" da mais-valia. O sujeito das duas teorias é um só: aquele que sofre e se indaga sobre a origem inconsciente de seus sintomas é o mesmo que desconhece, por efeito dessa mesma inconsciência, que o poder encantatório das mercadorias é condição não de sua riqueza, mas de sua miséria material e espiritual.
Se a sociedade em que vivemos se diz "de mercado" é porque a mercadoria é o grande organizador do laço social.
Não seria necessário recorrer a Marx e Freud para defender o caráter político das formações do inconsciente. Bastaria citar a frase "o inconsciente é a política", proferida por Lacan, que convocou os psicanalistas a se empenharem por "alcançar em seu horizonte a subjetividade de sua época". Mas insisto em recorrer aos clássicos para lembrar aos lacanianos extremados que a verdade não nasceu por geração espontânea da cabeça de Lacan.

Crise do sujeito
Se Freud fundou a psicanálise ao vislumbrar, no horizonte de sua época, as razões da insatisfação histérica, é nossa vez de tentar escutar o que mudou desde então, à medida que a norma produtiva/repressiva foi sendo substituída pela norma do gozo e do consumo.
Alguns sintomas, na atualidade, têm se tornado mais frequentes e mais incômodos do que as formas consagradas das neuroses e das psicoses no século passado. Hoje as drogadições, os transtornos alimentares, os quadros delinquenciais e as depressões graves desafiam os analistas a repensar a subjetividade. Isso não implica necessariamente que as antigas estruturas clínicas tenham se tornado obsoletas.
O que encontramos hoje nos consultórios psicanalíticos é um novo sujeito? Ou são novas expressões sintomáticas que buscam responder ao velho conflito entre as pulsões e o supereu -este representante das interdições e das moções de gozo, no psiquismo? O sujeito contemporâneo está mais próximo do perverso, que sabe driblar a falta pelo uso do fetiche? Ou é ainda o neurótico comum que, em vez de tentar seguir à risca a norma repressiva, tenta obedecer a um mestre fetichista que lhe ordena a transgredir e gozar além da medida?
Por enquanto, tenho escutado, em média, neuróticos mais ou menos estruturados tentando corresponder à suposta normalidade vigente, a qual -esta sim- já não é mais a mesma nem do tempo de Freud, nem do de Lacan.
A "crise do sujeito", outra face da chamada "crise da referência paterna", corresponde, a meu ver, ao deslocamento e à pulverização das referências que sustentavam, até meados do século passado, a transmissão da lei. Não se trata da ausência da lei na atualidade, mas da fragilidade das formações imaginárias que davam sentido e consistência à interdição do incesto -a qual, desde Freud, é considerada condição universal de inclusão dos sujeitos na chamada vida civilizada, seja ela qual for.
Se o homem contemporâneo sofre do que [o psicanalista francês] Charles Melman chamou de falta de um centro de gravidade, é porque as referências tradicionais -Deus, pátria, família, trabalho, pai- pulverizaram-se em milhares de referências optativas, para uso privado do freguês.

Culpa e frustração
O "self-made man" dos primórdios do capitalismo deixou de ser o trabalhador esforçado e econômico para se tornar o gestor de seu próprio "perfil do consumidor" a partir de modelos em oferta no mercado. Cada um tem o direito e o dever de compor a seu gosto um campo próprio de referências, de estilo, de ideais. Aparentemente, não devemos mais nada ao pai e ao grupo social a que pertencemos, dos quais imaginamos prescindir para saber quem somos.
Este aparente apagamento da dívida simbólica não nos tornou menos culpados; ao contrário: hoje escutamos pessoas que se dizem culpadas de tudo. Não citarei, em hipótese alguma, falas dos que se analisam comigo: daí o caráter ligeiramente caricato dos exemplos que se seguem, como expressões genéricas da transformação que o mercado produziu nos discursos.
A antiga donzela angustiada com as manifestações involuntárias de sua sexualidade reprimida -lembrem-se de que Freud relacionou o tabu da virgindade e a moral sexual entre as causas do mal-estar, no início do século 20- hoje se sente culpada por não usufruir tanto do sexo, das drogas e do "rock and funk" quanto deveria. O obsessivo escrupuloso, acossado por fantasias perversas, agora se queixa de seu bom comportamento: queria ser um predador sem escrúpulos, eliminar os rivais, abusar sem pudor das mulheres.
As pessoas vivem culpadas por não conseguirem gozar tanto quanto lhes é exigido. Culpadas por não alcançar o sucesso e a popularidade instantâneos, por perderem tempo em sessões de análise -culpados por sofrer. O sofrimento não tem mais o prestígio que lhe conferia o cristianismo. Sofrer não redime a dívida; ao contrário, reduplica os juros.
Sem recurso à referência a autoridades repressivas que faziam obstáculo aos prazeres, as pessoas têm dificuldades em justificar seus sintomas. Não encontram a quem endereçar suas queixas ou apoiar seus ideais.
"Meus pais são amigos, meus professores são legais, ninguém me impõe ou me impede nada: eu sou um otário porque não consigo ser feliz". O sentimento de culpa, como escreve [o sociólogo francês Alain] Ehrenberg, tomou a forma de sentimento de insuficiência. Assim, a resposta à dor psíquica não é buscada pela via da palavra, mas pelo consumo abusivo dos psicofármacos que prometem adicionar a substância faltante ao psiquismo deficitário. O remédio age em lugar do sujeito, que não se vê responsável por seu desejo e por suas escolhas.
Não se concebe a vida como um percurso de risco que inclui altos e baixos, incertezas, acertos, dúvida, sorte, acaso. A vida é um empreendimento cujos resultados devem ser garantidos desde os primeiros anos -daí o surgimento de uma geração de crianças de agenda cheia de atividades preparatórias para a futura competição por uma vaga promissora no mercado de trabalho.
Não por acaso, essas mesmas crianças estarão mais predispostas à depressão na adolescência, esvaziadas de imaginação, de vida interior, de capacidade criativa. O universo amoroso ou familiar que substitui o espaço público como gerador de valores está totalmente atravessado pela linguagem da eficiência comercial. "Quem vai olhar para um modelo fora de linha como eu?" "Como promover a otimização de meus finais de semana?" "Fiz as contas: com o que gastei na análise de meu filho já poderia ter trocado de carro duas vezes" (nesse caso, o analista sente-se tentado a sugerir que, de fato, ficaria mais em conta trocar de filho).
Vale ainda mencionar o estranho silêncio, nos consultórios dos analistas, em torno do eterno mistério do desejo e da diferença sexual. A falta de objeto que caracteriza a atração erótica parece ter sido ofuscada pela onipresença de imagens sexuais nos outdoors, na televisão, nas lojas, nas revistas -por onde olhe, o sujeito se depara com o sexual desvelado que se oferece e o convida.
As fantasias sexuais são todas prêt-à-porter. Seria ok, se o suposto desvelamento do mistério não produzisse sintomas paradoxais. O tédio, em primeiro lugar, entre jovens que se esforçam desde cedo para dar mostras de grande eficiência e voracidade sexuais. As intervenções cirúrgicas no corpo, de consequências por vezes bizarras, em rapazes e moças que pensam que a imagem corporal perfeita seja a solução para o mistério que mobiliza o desejo.
A reificação do sujeito identificado como mais uma mercadoria se revela no medo generalizado de não agradar. O mistério do desejo persiste, assim como não deixa de existir o inconsciente: mas é como se suas manifestações não interrogassem mais os sujeitos.


MARIA RITA KEHL é psicanalista e ensaísta, autora de "O Tempo e o Cão" (ed. Boitempo).

Fonte: FSP, 06/09/2009